foto: Juliana França

foto: Juliana França

“Você acredita em intuição?”

Me imaginei no divã, na sala do meu analista, fazendo a ele essa pergunta. A resposta provavelmente seria não, seguida de alguma interpretação ou rótulo psicanalítico.

E você, caro leitor, você acredita em intuição?

Em meio a obrigações do dia, me peguei nessa pergunta. Essa sempre foi e sempre será uma importante questão para mim. Uma questão por vezes difícil e também fácil de responder. Sempre tento buscar explicações vãs para coisas inexplicáveis. Estudar para encontrar respostas que sempre se encaixam em uma determinada teoria. Afinal, a gente sempre pode encontrar uma desculpa ou razão para tudo, não é mesmo? E a intuição, aonde ela fica nessa dança?

O que mais me incomoda na minha rotina em São Paulo é andar pelas ruas e perceber olhos anestesiados. Olhos cegos pela pressa, pela ambição, pela raiva, pelo Rivotril. Olhares perdidos, vazios, tristes. E meu exercício diário é lutar contra isso que chamo de normose.

Todos os dias me pergunto quais são as minhas ambições. Tento até fantasiar algumas, mas percebo que elas, no fundo, não existem. Queria tanto me encaixar num modelo, mas não consigo. O que quero deixar para o mundo? Uma herança sanguínea, um nome marcado na história de alguma grande empresa, algumas posses materiais ou simplesmente a certeza de que vivi uma vida plena? Fico com a última opção. E é exatamente aí que vejo a intuição. Para mim, uma vida guiada pela intuição é uma vida sem certezas, sem explicações aparentes, difícil de se encaixar em padrões pré-estabelecidos. Por isso é tão difícil acreditar nela. Por isso é tão mais fácil se anestesiar, se culpar ou jogar a culpa naquilo que nos rodeia. Viver com a intuição é se guiar pelo livre arbítrio, é saber que erros não existem e que escolhas, todas elas, fazem parte da jornada. Viver com a intuição não é tarefa fácil, mas será que não é justamente isso que a gente deveria aprender?