Há pouco mais que 5 meses um mesmo diálogo se repete nos meus dias: “Mas então, onde você está morando?” E a resposta é simples: “Não tenho casa.” A reação de quem questiona geralmente vem acompanhada de uma risada assustada, uma cara de espanto ou até mesmo uma palavra de consolo. Poucas pessoas entendem o que isso significa, muitas desejariam ter essa coragem de saírem por aí vivendo do acaso, mas o que quase nenhuma delas sabe é que liberdade assusta. E muito!

Estou vivendo apenas com uma mala. Um fato importante me fez sair da minha zona de conforto e enfrentar algumas questões importantes da minha vida. O que pensei que pudesse ser apenas uma pequena pausa, se tornou um estado permanente que tem durado muito mais do que imaginei.

Esse foi o mais importante exercício de desapego que já fiz na vida. Encaixotei toda a minha casa e levei comigo apenas aquilo que acreditava ser suficiente. São 5 meses sem comprar nada pessoal, usando as mesmas poucas roupas e sapatos, vivendo em lugares diferentes, onde sou acolhida, e aceitando os trabalhos que aparecem, com muita dignidade. Tenho muitas perguntas e poucos desejos. Abracei uma vida sem expectativas, que me proporciona viver com intensidade cada dia,  tudo o que acontece.

Outro dia me dei conta que nesse estilo de vida onde os únicos lugares comuns que tenho são as poltronas de avião e saguões de aeroportos, eu já não sinto a vontade de voltar pra casa, afinal, não tenho casa. O não existir desse desejo faz com o que o ir seja sempre mais interessante, pois não ter para onde voltar, faz com que você se abra mais e mais para cada destino, cada nova experiência. Nunca vivi tanto os meus amigos, nunca apreciei tanto cada comida provada, nunca fui tão feliz. Sei que esse não é um estado eterno, embarquei numa jornada interior, de auto-conhecimento, que é muito prazeroso e, ao mesmo tempo, muito dolorido. Quando não se tem nada, você tem a você mesmo e olhar pra si é muito assustador, quando o que estamos acostumados a fazer é olhar para tudo o que temos em volta.

Nessa jornada percebi que preciso de muito menos do que imaginava. Percebi que sorrisos valem mais do que palavras e que abraços bem dados são capazes de curar qualquer angustia ou incerteza. Nessa caminhada aprendi que quanto mais se doa, mais se recebe, e que o amor é uma das moedas de troca mais potentes que já conheci.

Eu não sei aonde esse caminho vai parar e nem me importo. Cada dia é um dia, as surpresas que me aparecem são sempre mágicas, muito bem vividas. São pessoas, sonhos, desafios, trabalhos, trocas de experiências, absoluta doação. Outro dia vi uma citação na internet: “A vida é muito curta pra ser pequena.” Eu não sei quando a minha vida vai acabar, a única coisa que sei é que pode ser a qualquer momento, pois não sou eterna. E se isso acontecer amanhã, terei a certeza de que estive inteira, que vivi o melhor que pude. Que fui feliz.