Foto por: Juliana França

Se eu fosse escolher um planeta para definir a infância, ele seria Júpiter. O grande expansor, que abre portas e caminhos, e que tem um quê de sabedoria também. A infância, ao meu ver, é um momento de completa expansão. A criança é como uma semente, sedenta por uma boa terra fértil para ser plantada e condições favoráveis para se desenvolver. E nós, adultos, somos responsáveis por isso, por prover a boa terra, adubo e regar no tempo certo. A questão é que nem sempre nos damos conta disso.

Após um ano intenso imersa no mundo infantil – sob a ótica da antroposofia -, entre crianças, pais e professores, o que percebi é que ser criança não é nada fácil e óbvio. A sensação que me vem é que a primeira coisa que tentamos fazer é limitar as nossas crianças, até porque um dia também fomos limitados. Queremos transformar a energia de Júpiter em Saturno e transformar a expansão e descoberta em controle, afinal, vivemos num mundo cheio de obrigações e compromissos, onde somos obrigados a dar frutos em terreno arenoso. Queremos fazer o espaço caber em caixinhas, transferimos as nossas angústias aos nossos pequenos, na ânsia de fazê-los “melhores”. Melhores pra quê? Pra quem?

Sabe, num momento de tristeza, quem chora é a sua criança. Num momento de dor, quem sofre é a sua criança. Todos nós temos uma criança interior que sente os traumas e as feridas do passado, da tentativa de um ajuste a um terreno não propício para si. As crianças, assim como nós, carregam em si uma vontade imensa de fazer, de descobrir, de amar. Você já reparou que quanto menor a criança, menos medo ela tem? Elas aprendem a andar caindo. Aprendem a falar errando. Aprendem a comer experimentando. Elas não buscam a perfeição (característica tão saturnina), elas buscam a experiência. Elas querem provar, desvendar, descobrir. Aprender. E nós ainda temos isso dentro de nós, na nossa criança interior.

Por isso, sempre digo que para entender de fato uma criança, precisamos entender e atender a nossa criança interior. Sem essa conexão o diálogo não se faz completo, não somos capazes de compreender plenamente as necessidades daquele serzinho que só quer afeto e proteção, assim como nós. Porque no fim das contas, para expandir e crescer, só precisamos de uma única coisa: amor. Então, para ajudar a criança externa, comece por dentro, doando-se auto-amor. Pois o amor é o melhor adubo, para toda e qualquer circunstância ou fase de vida.