Um dia recente…
Estou saindo do estacionamento de um banco e ao sair uma moça dentro de uma SUV bloqueia meu carro. Aproximo-me e aviso que estou de saída, peço para que ela se afaste para liberar meu carro, ensaio alguma simpatia oferecendo minha vaga.
Entro em meu carro e aguardo.
Nenhum movimento, nenhuma resposta. Lembro que é melhor ter paciência, ela continua teclando seu celular, alheia ao meu tempo.
Penso otimista: ela já deve ter ligado a ignição.
Espero…..
Passam-se cinco minutos, começo a sentir aquela impaciência desconfortável de quem está sendo desrespeitada. Arrisco…. buzino…..
Sou atacada por insultos, com direito a receber na cara o gesto típico do dedo anular em riste.
Ela continua teclando, e eu tendo que ficar no tempo dela.
Segunda cena
Caminho em uma avenida, que por acaso naquele momento estava deserta.
Em minha direção um homem com aparência soturna, com claras evidências de ser mendigo. Penso, um craqueiro que virá me assaltar.
Sinto o desconforto do medo, resolvo ir em sua direção e aborda-lo com um bom dia.
Ao que ele responde: A senhora sabe que andar por aqui é muito perigoso?
-Não sabia, respondi.
-Vou acompanhá-la para protegê-la.
Estava ã frente de alguém esquecido e desprotegido pela sociedade que me oferecia proteção, agradeci emocionada.
Gestos distintos que traduzem os extremos: Uma jovem em sua SUV e um mendigo que oferecem o que tem!
Como entender nós humanos?
“Somos poeira de estrelas” disse Carl Sagan retratando de modo lírico nossa participação no universo. Somos parte de uma sinfonia e implicados na realidade que compomos.
Para a Astrologia somos um fractal do universo, e trazemos registrado no instante do nosso nascimento as dinâmicas a serem desenvolvidas para evolução das melhores qualidades do que é humano em nós. Temos uma dimensão cósmica.
Nossa capacidade de reconhecer, organizar e internalizar nossa humanidade vai ao encontro de nossa responsabilidade em assumir que somos co-autores, e implicados em uma realidade muito maior que a nossa racionalidade pode abarcar.
Nesse momento, o céu nos está convidando a repensar nossos relacionamentos, e a nossa responsabilidade em sustentar a sensibilidade, de ser tocado por um outro humano, que sente as mesmas fomes, as mesmas dores, e os mesmos medos que nós.
Em épocas de afirmar as diferenças, estamos sendo convidados para nos reconhecer.
Refletir sobre solidão no meio da multidão, refrescar nossos olhos para enxergar a beleza de sermos nós.
Será que nas nossas contas de solidão, estamos deixando de computar que somos sós por evitar os nós?
Por: Lu Teixiera – lucia@ohumanoemnos.com.br