Ontem li algo na internet que me deixou bem intrigada. Na verdade foram dois textos que me fizeram pensar bastante sobre várias coisas que já vêm me ocupando a mente há algum tempo. Um dos textos era uma carta de um jovem de 30 anos, que se dizia um fracassado. Na carta, quase depressiva, ele se dizia assim por ter 30 anos e ainda morar com a mãe, estar desempregado e ter uma namorada de 8 anos que, segundo ele, ainda o ‘aguentava’ por pura pena. O motivo do seu fracasso era não ter uma carreira estabelecida, não possuir um bem material importante e também por ainda não ter conseguido se casar. O mais assustador de tudo isso não foi nem ler o seu relato, foi ler os comentários das pessoas sobre a sua história. Muitas delas falavam pra ele não se sentir assim, que ainda havia tempo para ele conseguir um bom emprego e construir um patrimônio, e que enquanto isso não acontecia, recomendavam que ele fosse procurar um psiquiatra para que essa dor diminuísse. Ao ler tudo isso eu tive um choque, um choque de realidade. Em que mundo vivemos? Quais são os nossos reais valores?
O tão falado Retorno de Saturno acontece justamente nessa época. É nessa fase dos 28 aos 30 anos, quando começamos a entrar de fato na fase adulta, que Saturno aparece em nossas vidas cobrando a fatura do nosso ‘êxito’: “Por onde você andou? O que construiu? Isso é significativo para o seu futuro?” Não é atoa que esse jovem se sinta um fracassado, afinal, tudo o que ele aprendeu na vida era que deveria, aos 30 anos, ter uma carreira estável que lhe permitisse pagar (com folga) a hipoteca da casa própria, além de uma esposa ou uma bela mulher ao lado. Ao ver, nessa idade, que ele não conseguiu conquistar nada disso, é claro que vem a frustração. “Sou um bosta”, deve pensar o próprio rapaz de si mesmo. Pobre homem. E para piorar a sua situação, vários desconhecidos tentam lhe confortar recomendando a ida a um psiquiatra. Será que é mesmo disso que esse jovem precisa? (Nada contra o trabalho dos psiquiatras, que considero muito importante e útil, mas tenho percebido uma certa banalização dessa profissão ultimamente.) Tornou-se fácil buscar desculpas para nos anestesiarmos. Nossa geração não aprendeu a sentir dor e Gilles Lipovetsky* não me deixa mentir! Buscamos anestésicos a todo momento, sejam eles de tarja preta ou não. Somos a geração do prazer absoluto. A custo de que? O que aprendemos com isso?
Toda a movimentação astrológica desse ano vem ao nosso encontro trazendo esses questionamentos. Nossos valores estão sendo colocados em xeque, a nossa percepção de mundo e relacionamentos também estão mudando a duras penas. O mundo está nos fazendo pensar: Será que o caminho que estou seguindo é mesmo aquele que desejo pra mim, ou apenas é mais um caminho que me mandaram seguir e eu estou seguindo? Viveremos de aparências até quando? E quando é que, enfim, teremos coragem de assumir aquilo que somos de verdade?
Mais do que a ‘fatura do êxito’, o Retorno de Saturno também nos cobra uma coerência entre a nossa essência e aquilo que somos. Acredite, muitas vezes há uma diferença entre essas duas coisas. Você está sendo quem você é de verdade ou está apenas vestindo um personagem?
Em relação ao segundo texto a que me referia no início dessa reflexão, é esse aqui, um complemento para tudo isso.
E então, onde vive o seu fracasso?
* A Felicidade Paradoxal – Gilles Lipovetsky