Sobre o que aprendi com a morte

 

Minha avó era uma mulher forte. Aos seus 94 anos de idade o sorriso permanecia no rosto, nenhuma doença era capaz de lhe abalar. Mãe de 9 filhos e avó de 21 netos, era a típica matriarca nordestina, que não deixava comida faltar em casa: pois sabia que família feliz é família bem alimentada. E todos os encontros se davam ao redor daquela grande e farta mesa: almoços, jantares, comilanças. Todos muito bem alimentados. O elogio também não podia ser diferente: “Ta bonita, minha filha! Ta gorda!” E mesmo que isso incomodasse, a gente sabia que essa era a forma como ela via a beleza.

Nessa semana essa mulher se foi. Um suspiro como despedida, morreu como sempre quis: saudável e sorrindo. O susto foi grande para todos, claro. Com toda a sua força, imaginávamos que ela fosse agüentar mais uns bons anos de festanças.

Com a sua morte, um misto de sentimentos e aprendizados vieram. Não é fácil lidar com essa dor. A ausência incomoda, os dias passam a ser planejados com outro sentido. Nada permanece igual. A morte nos tira algo valioso, mas nos faz lembrar do significado mais importante da nossa existência: a vida. E ao lamentar a partida da minha avó, comecei a me questionar sobre a minha vida e o sentido que vinha dando a ela.

Encarar a morte como algo necessário e aprender com isso, nos faz passar pela dor de forma diferente. Visualizamos o quanto a fé é importante e como deixamos para depois as coisas que realmente nos são valiosas. Muitas vezes vivemos como se fôssemos eternos e esquecemos que esse dia chegará para todos nós. Ao lamentar o passado e viver a ansiedade do futuro, esquecemos de viver o presente e agradecer por todas as situações que nos são colocadas como oportunidade de crescimento e aprendizado. Esquecemos de quem realmente importa e do que realmente tem significado para nós. Quais são os nossos reais valores? O que nos motiva verdadeiramente?

Com a morte da minha avó, o que fica não é a dor. É a gratidão. Gratidão pela minha história de vida, pelo exemplo de integridade e força que me foram passados e que hoje carrego comigo, e pelos ensinamentos que ficaram também com a sua partida. Ver a situação sob esse ângulo, me faz mais tranqüila, pois me faz enxergar o verdadeiro sentido da vida: a felicidade. E essa felicidade está nas pequenas coisas, naquelas que de fato dão sentido à nossa existência, em tudo aquilo que não é material, mas é eterno, como a fé e o amor.

Obrigada, vó, por me ensinar tanto.

As alegrias das descobertas – um agradecimento

 

“Cruzamentos sugerem que há sempre a possibilidade da surpresa. Peregrinar é caminhar sabendo que para cada passo há uma transversal, uma esquina onde as pessoas, o outro, sempre oferecem a alternativa de um novo destino.” Nilton Bonder

Há alguns anos eu decidi peregrinar pela vida. Não no sentido de sair viajando com uma mochila pelas costas, sem destino, pelo mundo. Mas simbolicamente, a fim de me permitir conhecer novas pessoas, novos horizontes, novos pensamentos, de uma forma aberta para acolher, ser acolhida, (me)inspirar e aprender.

Este fim de semana foi um momento em que eu parei num desses lugares novos e descalcei os meus sapatos para sentir o chão sagrado em que eu estava pisando. Foram 48 horas de convivência com gente que eu nunca havia estado antes, mas que aos poucos foram me mostrando uma nova forma de ver e sentir a vida. Me deixei levar por cada palavra, cada sorriso, cada ideia e sonho de um mundo melhor. Consegui também inspirar e ser inspirada por cada uma dessas mentes brilhantes.

Não consigo descrever em palavras a minha felicidade e o meu amor por tudo o que está acontecendo e aconteceu aqui nesta casa, durante esse tempo. O mundo precisa de um combustível dinâmico como esse, de pessoas que acreditem numa transformação possível e que tenham coragem de colocar as mãos na massa. Não podemos esquecer do grande poder de transformação que temos em nós, em pequena ou grande escala, somos seres influenciadores e podemos mudar o mundo ao nosso redor através da inspiração.

O que nos motiva? O que nos inspira? Aonde queremos chegar? Se a nossa intenção for boa e o nosso coração generoso, chegaremos longe com os nossos sonhos. Como bons peregrinos, não podemos nos esquecer de observar bem o caminho por onde passamos, acolher e aceitar ser acolhido por todos aqueles que cruzam o nosso caminho nessa jornada. Como peregrinos-marujos, sabemos que o mar é perigoso e cheio de desafios, mas ele não termina abruptamente e não existem dragões que vão nos engolir. É preciso coragem e isso temos de sobra.

Gratidão e compaixão, são essas as duas palavras que resumem essas 48 horas de sonho coletivo. Espero que esse encontro não termine aqui e que ele renda frutos em nossos meios e no nosso mundo. Afinal, é sempre bom lembrar que toda árvore cabe dentro de uma semente.

 *Este post é especial. Um agradecimento por esses encontros que a vida nos traz e pelas mudanças que eles nos provocam. Um agradecimento a todos os envolvidos no POA Service Jam 2013. <3