Os sonhos são os principais motivadores do nosso caminhar na vida. A realização do sonho se dá no encontro da competência com a oportunidade. O sonho que sonhamos, organiza a vontade e nos impulsiona em direção à aventura de realizá-lo. Não existe sonho impossível, existe sonho que demanda maiores investimentos na competência interna e maior acuidade na percepção da oportunidade externa. Por isso uma das questões mais importantes na realização dos sonhos é a capacidade de sentir: quanto mais acurada a percepção de si e do que está fora de si, maior a probabilidade de ajuste entre encontros e possibilidades. Essa condição implica na consciência das capacidades e limites, e na coragem para ler os obstáculos como disparadores e incentivos para aquisição de mais recursos na travessia de cada etapa do processo.
O grande inimigo da realização dos sonhos é o habito, a cômoda postura de se repetir e evitar o desconhecido. O sonho inspirado, é aquele que nos pega de surpresa, que abre uma fenda nova na nossa estrutura e que se impõem como aventura a ser explorado. Esse sonho inspirado abre caminhos para uma nova dimensão do eu que está latente, e essa força, uma vez acionada, impulsiona, como uma fonte de vitalidade, o projeto para a realização.
Todo sonhar inspirado acorda o nosso herói interno e nos impulsiona a uma jornada. Nosso sonho nos coloca frente à frente a essa jornada. Os obstáculos e desafios acordam os recursos que vão dar corpo e sentido ao que é sonhado, fortalecendo a experiência de auto-conhecimento Todo sonho que acorda o herói nos conduz à nós mesmos. Saímos fortalecidos. O sonho nos convoca a mais conhecimento, instigando a nossa subjetividade. Matura o conhecimento, que leva a sabedoria que se traduz em atitude. Esse ato transforma a nossa vida.
Gosto daquela história que conta que um homem muito religioso, salvo de um naufrágio em uma ilha deserta, implora a Deus que o salve, justificado pela sua fé. Enquanto rezava, passa por ele uma jangada e oferece ajuda, que ele gentilmente declina dizendo: “Não obrigada, Deus vem me salvar!” Tempos depois passa então um navio maior e oferece uma bóia e novamente, o homem rejeita, com a mesma fala. Terceira tentativa, um helicóptero oferece ajuda, e ele novamente não aceita. Passada uma semana de fome e de sede, o homem começa a perceber que iria morrer e se revolta com Deus, blasfemando: “Por que eu, que sempre fui tão devoto, obediente a Ti, por que me abandonaste?” Ao que Deus responde: “Mandei a jangada, você não me reconheceu, mandei o navio, e nada. Nem o helicóptero você aceitou, respeitei a tua escolha!”
Duas questões se apresentam nessa alegoria que exemplificam o insucesso de nossos sonhos. Achar que somos especiais, e portanto não precisamos investir nada, nem promover mudanças em nossas vidas e a falta de visão para reconhecer o que chega até nós em formato diferente do que foi imaginado. Realizar o sonho, implica em ter visão e visão é conseqüência da sabedoria. Se saber proporciona a visão das circunstâncias que facilitam a realização do sonho.
A realização do sonho está diretamente relacionado ao alinhamento entre o querer e o sentir, para poder através da sensibilidade dar voz e legitimidade à vontade. Estados depressivos, falta de coerência, ausência de intenção são os estados que não permitem o sonho se realizar. Estar em estado de surpresa, olhar o processo sem perder de vista o objetivo, são condições essenciais para o sucesso.
Muitos dos nossos afazeres são alheios à nossa vontade, assim quando estamos atolados por pressão de sobrevivência não conseguimos sonhar, ou os sonhos viram rotas de fuga da realidade. Quando estamos com as necessidades básicas atendidas, plenos de acolhimento, conforto e atenção chegou o momento de sonhar. A disciplina e a determinação são boas aliados. Marque um encontro com si mesmo, cultive o silêncio para sair da excitação caótica, acesse seu interior abrindo espaço para o sentir, mapeando com sinceridade os sonhos que trazem alegria, liberdade e desprendimento. Descarte os sonhos que aumentam seu apego, que se realizados, o aprisionam para a sustentação do conquistado, ou que exaurem sua alegria.
Nunca transfira a realização do sonho para um outro. O outro ou as circunstâncias são coadjuvantes do nosso projeto. Podemos compartilhar sonhos com o outro que sonha o mesmo sonho, nunca impor o sonho a um outro que não está em sintonia com nossos anseios. Uma parceria boa é aquela que soma intenção e compartilha satisfação.
Como diz o poeta Ferreira Gullar, “que a força do medo não me impeça de ver o que eu anseio”.
2013 não foi um ano fácil. Também, o primeiro ano após o ‘fim do mundo’ não poderia ser diferente. Um ano marcado pelas forças de Plutão, Urano e Saturno, e, ao mesmo tempo, com as graças de Júpiter e Netuno. O que isso significa?
O ano que passou foi duro. Muitas pessoas viveram alguns terremotos em suas vidas pessoais. Marcou o fim e início de um novo ciclo em muitos sentidos. Foi acompanhado de dor, mas também muita coragem para mudar os rumos, hastear as velas em busca de novos mares.
Todo e qualquer processo de mudança não é fácil, mas é necessário. O ano da morte, tipicamente plutoniano, trouxe muitas surpresas e renovações. E quantos de nós não sentiu o chão sumir sob os pés? Mas aos poucos os nossos alicerces vão sendo reconstruídos, os nossos sonhos reajustados e muitos de nós vai tomando a consciência de que mudar é necessário, causando assim um despertar num nível mais profundo.
2013 foi o ano da limpeza, de rever os nossos reais valores e anseios. Foi o ano de olhar para dentro, de buscar a inteireza do nosso ser. Claro que não podemos generalizar. Cada ser humano vive esses aspectos de uma forma muito pessoal, mas em âmbito geral, 2014 continua com esse processo.
2014 não será mais fácil. Ainda marcado por algumas turbulências, a única coisa que esse novo ano pede é verdade. Verdade consigo e com o mundo. Generosidade e compaixão para olhar para si e seus problemas e tomar uma atitude. Será que estou sendo sincero comigo mesmo? O que realmente me motiva nessa vida? O que me faz ir além?
Para 2014 lhes faço um convite: antes de sair vivendo de inércia, pare um pouco, olhe para dentro e reflita. Seja coerente com aquilo que você acredita. Olhe para os lados, seja generoso. Ame mais e entenda que todos nós também passamos por dificuldades. Todos nós temos nossas dúvidas, nossos questionamentos. Todos nós buscamos a felicidade e sofremos, cada um do seu jeito, pelos seus motivos. Tente praticar a compaixão consigo e com o mundo diariamente. Não se culpe tanto e permita-se viver aquilo que sempre sonhou. E antes de ser honesto com o mundo, seja honesto, primeiramente, com você mesmo. Não se esqueça que você é a mudança que tanto deseja ver no mundo. Portanto, se você anseia viver num lugar melhor, trabalhar num lugar melhor ou se relacionar de uma melhor maneira, não cobre de fora aquilo que depende só de você. O mundo é o nosso espelho. E, 2014, apenas um novo ano, que será aquilo que você fizer dele.
Há pouco mais que 5 meses um mesmo diálogo se repete nos meus dias: “Mas então, onde você está morando?” E a resposta é simples: “Não tenho casa.” A reação de quem questiona geralmente vem acompanhada de uma risada assustada, uma cara de espanto ou até mesmo uma palavra de consolo. Poucas pessoas entendem o que isso significa, muitas desejariam ter essa coragem de saírem por aí vivendo do acaso, mas o que quase nenhuma delas sabe é que liberdade assusta. E muito!
Estou vivendo apenas com uma mala. Um fato importante me fez sair da minha zona de conforto e enfrentar algumas questões importantes da minha vida. O que pensei que pudesse ser apenas uma pequena pausa, se tornou um estado permanente que tem durado muito mais do que imaginei.
Esse foi o mais importante exercício de desapego que já fiz na vida. Encaixotei toda a minha casa e levei comigo apenas aquilo que acreditava ser suficiente. São 5 meses sem comprar nada pessoal, usando as mesmas poucas roupas e sapatos, vivendo em lugares diferentes, onde sou acolhida, e aceitando os trabalhos que aparecem, com muita dignidade. Tenho muitas perguntas e poucos desejos. Abracei uma vida sem expectativas, que me proporciona viver com intensidade cada dia, tudo o que acontece.
Outro dia me dei conta que nesse estilo de vida onde os únicos lugares comuns que tenho são as poltronas de avião e saguões de aeroportos, eu já não sinto a vontade de voltar pra casa, afinal, não tenho casa. O não existir desse desejo faz com o que o ir seja sempre mais interessante, pois não ter para onde voltar, faz com que você se abra mais e mais para cada destino, cada nova experiência. Nunca vivi tanto os meus amigos, nunca apreciei tanto cada comida provada, nunca fui tão feliz. Sei que esse não é um estado eterno, embarquei numa jornada interior, de auto-conhecimento, que é muito prazeroso e, ao mesmo tempo, muito dolorido. Quando não se tem nada, você tem a você mesmo e olhar pra si é muito assustador, quando o que estamos acostumados a fazer é olhar para tudo o que temos em volta.
Nessa jornada percebi que preciso de muito menos do que imaginava. Percebi que sorrisos valem mais do que palavras e que abraços bem dados são capazes de curar qualquer angustia ou incerteza. Nessa caminhada aprendi que quanto mais se doa, mais se recebe, e que o amor é uma das moedas de troca mais potentes que já conheci.
Eu não sei aonde esse caminho vai parar e nem me importo. Cada dia é um dia, as surpresas que me aparecem são sempre mágicas, muito bem vividas. São pessoas, sonhos, desafios, trabalhos, trocas de experiências, absoluta doação. Outro dia vi uma citação na internet: “A vida é muito curta pra ser pequena.” Eu não sei quando a minha vida vai acabar, a única coisa que sei é que pode ser a qualquer momento, pois não sou eterna. E se isso acontecer amanhã, terei a certeza de que estive inteira, que vivi o melhor que pude. Que fui feliz.
Acabo de me dar conta de que hoje completo 2 meses em Porto Alegre. Uma mudança de vida, não só de cidade. Confesso que não foi fácil tomar essa decisão e abandonar tudo para recomeçar do zero. Uma casa nova, numa terra meio desconhecida, emprego novo, amigos novos, tudo por descobrir. Cheguei aqui com 2 malas e um sonho: ser feliz. Bom, não posso dizer que eu não era feliz em São Paulo e isso me martelava muito na cabeça quando eu pensava que aqui encontraria felicidade.
Nesse percurso, entendi que a felicidade tem que vir de dentro, não pode estar condicionada a algo ou alguém, talvez esse seja o grande segredo do desapego. Nesse sentido eu estava bem, São Paulo não era uma cidade que me incomodava tanto, eu conseguia viver harmonicamente com os seus contrastes. Cada vez que alguém me questionava sobre a minha decisão, eu também me questionava. Pra mim era claro o querer sair de São Paulo e vir para Porto Alegre, era algo intuitivo, como um chamado, sem muitas explicações. E eu sempre fui assim, meio sensitiva, por isso resolvi segui-lo. As explicações foram se formulando com o passar do tempo, com os questionamentos que foram surgindo.
Agora, depois desses dois meses, eu estou começando a entender o meu papel na cidade e o motivo real da minha mudança. Tem sim a ver com a minha intuição, ou talvez com a minha vontade de transformar algo aqui dentro e ao redor. Em 27 anos de vida eu nunca havia sentido uma sensação tão clara de pertencimento a um lugar como sinto hoje aqui.
É estranho uma pessoa que já se mudou algumas vezes dizer isso, mas acredito que essa sensação tem a ver com uma aceitação de si mesmo, muito mais do que um espaço físico. Eu nunca me senti pertencente, porque nunca havia me permitido ser eu mesma. E eu nunca fui eu mesma, porque nunca havia parado o tempo suficiente para me conhecer de verdade. A medida que essa descoberta foi acontecendo e que eu fui reconhecendo as minhas necessidades, meus sonhos e meus valores, eu fui identificando o que realmente fazia sentido para mim. Mais do que identificar, aceitar é o mais importante. Porque quando você se aceita tal e qual é, tudo ao redor passa a ter uma significado diferente. Você passa a ser o centro da sua vida e a fé em si mesmo começa a falar mais forte do que as dúvidas e medos de ser aceito e amado.
Posso dizer que hoje eu estou feliz, porque sou feliz. E Porto Alegre apenas potencializa isso em mim, porque a minha intuição estava certa ao me trazer pra cá. Durante toda a minha vida fui presenteada com o encontro de pessoas muito especiais, mas a sensação que tenho é de que aqui estou finalmente encontrando, aos poucos, os meus irmãos de alma. Para quem sempre se sentiu um peixe fora d’água, por ter idéias e pensamentos tão diferentes, ter essa sensação de irmandade é algo mágico, que preenche o coração de tal forma, que a minha vontade é de abraçar todo mundo que encontro na rua, só para poder compartilhar um pouco dessa minha alegria. Imagino que eu poderia ter encontrado isso em São Paulo, Goiânia, Granada ou qualquer outro lugar por onde já passei. Mas a minha intuição me trouxe para cá pois era aqui que eu tinha uma missão a cumprir. Que missão é essa? Ainda não sei e não tenho pressa em saber. Depois que entreguei as rédeas da minha vida para o destino, sei que boas surpresas virão em forma de aprendizado e que cada passo será em direção de uma utopia ‘possível’.
Quando eu digo: siga o seu coração, é tão simples quanto parece. A gente sempre sabe o que quer de verdade, a gente só tem medo de aceitar esse querer. Eu não tive medo e recomendo que você também não tenha.
Seja feliz.
*A intuição em alta não é apenas um privilégio meu. Esse é um dos significados de Netuno em Peixes, que neste mês está mais fortificado com a presença de outros planetas como Mercúrio, Sol e Vênus também no signo de Peixes. Falarei mais sobre esse ‘efeito’ no próximo post.