Sobre a liberdade e a verdade de ser você mesmo

Foto: Juliana França

Foto: Juliana França

Talvez um dos temas mais difíceis de se escrever seja sobre a liberdade. Temos a impressão de sermos livres, afinal, vivemos numa democracia, somos donos do nosso nariz, temos o direito de ir e vir… então, como assim não somos livres? Errado é quem diz o contrário! Pois duvido que a liberdade seja algo assim tão presente em nossa sociedade…

Antes mesmo de nascer, passamos a existir no imaginário de nossos pais e de nossa família. Ganhamos um nome sem mesmo vir ao mundo e mesmo antes de respirar pela primeira vez aqui fora, uma série de planos são feitos para o nosso futuro. Já nascemos carregando uma série de expectativas que colocam sobre nós e que, aos poucos, vamos aceitando e introjetando em nossa vida diária como uma obrigação, a medida que avançamos em nossa evolução: família, escola, amigos, faculdade trabalho. Já sabemos a fórmula da vida perfeita, aquela que nos foi ensinada lá atrás, aquilo que chamaram de sucesso e que muitas vezes vem acompanhado de um emprego, somas de dinheiro, casamento, filhos, carro, casa própria e férias uma vez ao ano. Pois se é assim que vivem todas as pessoas, quem serei eu para dizer o contrário e querer fazer diferente?

Vivemos uma liberdade ilusória, achamos que temos tudo, quando na verdade estamos vazios. Creditamos a nossa felicidade na compra do próximo sapato, no jantar naquele restaurante bacana, na viagem a praia no feriado prolongado. E essa felicidade dura pouco. Dura menos que o sapato, o tempo do jantar e acaba num fim de tarde, num domingo, véspera da segunda-feira, quando somos obrigados a voltar para a realidade que nos permite pagar a fatura do cartão de crédito. E assim seguimos, com a garganta seca, o sono em dia e as contas pagas. E quando é que pensamos na liberdade? Será que sabemos o que é a verdadeira felicidade?

Não é fácil ser livre (muito menos feliz). Liberdade não significa apenas abdicar de uma vida regrada, pois a verdadeira liberdade não é colocar uma mochila nas costas e fugir para outro continente. Ser livre verdadeiramente significa olhar para dentro e se enxergar de verdade. E esse é, talvez, um dos exercícios mais difíceis de se fazer, afinal, aprendemos tanto sobre quem tínhamos que ser, que esquecemos de nos perguntar quem gostaríamos de ser. Não fomos ensinados a nos encarar de frente, a viver a verdadeira liberdade, essa que nos vem sendo cobrada ultimamente. E, por isso, temos medo de assumir aquilo que acreditamos, pois ainda vivemos sob os holofotes dos julgamentos alheios. Ora, se ainda tememos ser julgados, a liberdade, então, seguirá nos sendo ilusória.

Com os intensos trânsitos astrológicos que estamos vivendo nesses últimos anos, o mundo vem pedindo verdade, mas para que haja verdade com o mundo, é preciso, antes de tudo, que exista verdade consigo mesmo.

Você por acaso já parou para pensar em quem você é de verdade?

Por: Juliana França – juliana@ohumanoemnos.com.br

O peso de nossas escolhas

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*foto: Juliana França

Fazer escolhas não costuma ser fácil para ninguém. Os signos de ar pensam demasiado. Os de terra analisam cada detalhe, os de água se sentem confusos e os de fogo geralmente saem passando por cima de tudo. Fui bem genérica no meu comentário, mas foi apenas para ilustrar um pouco como os elementos de nossos signos nos influenciam nesses momentos. A grande questão é que todos nós estamos cercados de dúvidas e de escolhas a fazer e decidir um caminho sempre vai nos parecer complicado.

Fazer uma escolha significa abrir mão e nem sempre estamos dispostos a abrir mão de algo. Somos tão cheio de certezas e objetivos, que a simples possibilidade de falhar em algo ou perder alguma coisa, já nos deixa loucos. E o que é viver senão estar constantemente abrindo mão de algo?

Quando fazemos uma escolha, geralmente já entramos em determinada situação cheios de expectativas. Esse, talvez, seja o nosso maior erro em começar algo. A expectativa quase sempre vai gerar frustração, pois o viver vai além da nossa imaginação. Imagino que, justamente por isso, sempre ficamos com um certo medo quando temos que decidir alguma coisa. Pelo medo de falhar, das coisas não acontecerem exatamente como esperamos. E, presos nesse medo, sofremos.

Uma escolha sempre envolve um risco, mas sempre nos traz também muitos benefícios e aprendizados (se formos capazes de enxergar). Podemos viver nossas escolhas com plenitude se não nos deixarmos levar por nossos medos, nossos apegos ou nossas expectativas. Aprender a dançar com a vida, essa é a grande lição das escolhas. Sempre teremos prós e contras, nada será exatamente como imaginamos. Mas se nos entregamos às situações, vivemos com mais plenitude, aceitamos o que nos acontece, somos gratos pelo que temos.

Quando escolhemos por um caminho, temos que vivê-lo. Se estamos sempre presos no que deixamos para trás, ficaremos sempre fazendo comparações: “ah, mas se eu tivesse escolhido de outra forma, tal coisa teria acontecido.” A grande verdade é que você nunca saberá o que teria acontecido, pois você nunca viveu aquilo. Portanto, abrace as suas escolhas e seja grato a elas. Foram as escolhas que você fez no passado que fizeram que você fosse quem é hoje e são as escolhas do presente que desenharão o seu futuro.

Consciência e gratidão são as palavras chaves para se viver feliz, livres do peso das escolhas mal feitas, pois não existem escolhas mal feitas, existem escolhas necessárias.

por: Juliana França – juliana@ohumanoemnos.com.br

Mercúrio retrógrado – do que você tem falado?

 

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*foto: Juliana França

Dizemos que um planeta está retrógrado quando, tendo como referência a terra, parece que este se movimenta para trás, pela astrologia, momento de revisão.

Mercúrio rege a comunicação, a inteligência, a tecnologia, o intercâmbio de informações. Em retrogradação, os assuntos relacionados ficam sujeitos a mal-entendidos, atrasos, obstáculos e imprevistos e estará retrogrado de hoje (dia 07/06) a 01/07.

Como entender a importância desse trânsito para nossas vidas, quando tudo parece depender quase que exclusivamente de comunicação e tecnologia?

Comunicar é criar acessos para ampliar experiências e compartilhar conhecimentos, explorar a diversidade, expandir nosso entendimento e participação no mundo de relação. Sem nos comunicarmos não fazemos sentido, por isso estamos nos especializando em ferramentas que facilitam nossa comunicação, para que esta fique cada vez mais e melhor, certo?

Nem sempre! Muitas vezes falamos e não contamos o que queríamos dizer, ou falamos coisas que não sabemos o que quer dizer. Esse é um grande problema de comunicação. Estamos tão expostos, e pressionados a falar, que cada vez mais o personagem que assumimos socialmente, fala por nós. Queremos falar o que agrada à todos, mas nem sempre o que falamos é verdadeiro. Na maioria das vezes o personagem que atuamos nos cala, emudecemos tanto que nem conseguimos mais escutar nossa voz… Resultado : confusão, desentendimento e solidão. Falência do nosso sistema de comunicação.

A exigência de respostas rápidas, a ansiedade por fórmulas mágicas, cartilhas para resolver problemas tem bloqueado o acesso ao nosso próprio pensamento, e impossibilitado nossa fala a partir de quem realmente somos.

Esse comportamento tem embotado raciocínios, sensibilidades e intuição. Na era da comunicação estamos cada vez mais rasos nas formas de expressão. Os textos se reduzem, o pensamento encurta e as inteligências se tornam ociosas, perdemos o sentido da expressão, da idéia de gerar idéias e experiências com elementos da informação.

Comunicar é um um processo em constante revisão, e a vigência de mercúrio retrógrado é um ótimo momento para avaliarmos se quando falamos, falamos à partir de nós, de nossos pensamentos, de nossas experiências, ou se citamos compulsivamente a fala de outros, usando referências bibliográficas para nos esconder.

Não nos damos conta que muita exposição massacra nossa capacidade de falarmos à partir do nosso verdadeiro ser. Somos constrangidos pelo personagem que criamos, e defendemos suas idéias, que nem nossas são, como nossa própria identidade.

Mercúrio é um planeta de ar, e deixar a inteligência respirar é ter a paciência de explorar o desconhecido, é aguentar o silêncio para ouvir o novo, é não ficar refém das certezas. Inteligência é acolhimento daquilo que chega estrangeiro em busca de espaço, é capacidade de reformular o já sabido. Pensar não é remoer, repetir, editar o que está posto. Pensar é deixar o fluxo das idéias surgir e compor para que sempre novos cenários se revelem. Enfim, saber se o que se quer dizer é o que está sendo dito já é um bom início para quem tem como propósito compartilhar a si mesmo, apostando que dentro de si existe uma verdade criativa, genial, saída da sua própria originalidade.

Na minha opinião Mercúrio fica retrógrado para pararmos e refletirmos se na ânsia de nos expressar, não estamos a repetir falas vazias, deixando nosso melhor amordaçado dentro de nós.

 

por: Lu Teixeira – lucia@ohumanoemnos.com.br 

 

Dança dos Planetas retrógrados – momento de revisão

 

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Não é de hoje que você deve vir escutando que vários planetas estão retrógrados, causando aquele estardalhaço. Já deve ser difícil tentar imaginar o que cada um deles causa em nossas vidas, ainda mais estando retrógrados. E o que, afinal de contas, é esse tal de retrógrado?

Dizemos que um planeta está retrogrado quando ele anda para trás. Sim, é isso mesmo, de uma forma mais coloquial, podemos dizer que é quando ele dá ré. Toda vez que um planeta faz esse movimento, ele pede algumas reflexões. E o nosso primeiro semestre estará recheado desses pedidos… Vênus, Mercúrio, Marte, Júpiter são alguns desses planetas que fizeram/farão esse movimento nesse início de ano.

2014 não será um ano tão mais fácil que 2013. Ainda marcado por alguns questionamentos, posso dizer que as decisões ainda serão um pouco difíceis de serem tomadas. Muitas dúvidas e ainda algumas mudanças marcam o início desse ano, que vem com esse clima de fatura a pagar: “Será que era isso mesmo que eu queria? Estou indo na direção correta?” Enquanto muitos têm a certeza de estarem seguindo o caminho certo, alguns outros ainda se questionam se deveriam ter tomado alguma atitude. É, amigo, não tá mole não. De toda forma, vemos muitas coisas entrando nos eixos, como se a vida desse um leve respiro, até levantar a próxima tempestade.

Questionamentos são naturais em toda a nossa jornada. E ultimamente eles têm sido muitos, eu sei. A sensação de falta de chão sob os pés ainda continua, principalmente para aqueles que ainda não saíram de cima do muro. A vida tem pedido uma tomada de atitude, uma decisão difícil de ser tomada, porém necessária. As máscaras continuarão a cair, uma a uma, e muita revisão será pedida. Nesse momento essa revisão é muito mais interna que externa. É hora de olhar para a casa (nosso interior) e perceber as mudanças que tanto almejamos: existe coerência no meu desejo? Existe verdade nos meus atos?

Entender a transformação como algo necessário é chave para não sofrer nesse período. O apego às estruturas antigas se torna o pior dos nossos inimigos. Sabemos que decisões precisam ser tomadas, mas continuamos a adiar. Até quando? E daí advém todo o sofrimento.

Como eu sempre digo, a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. Se colocar num papel de vítima apenas vai agravar aquilo que deveria ser uma faísca de uma evolução necessária. É preciso ser forte para encarar todas essas questões de frente.

Se você é coerente com o que acredita e o que busca, continue nesse caminho. Se não, reveja as suas motivações, pois 2014 já chegou com tudo.

Por: Juliana França – juliana@ohumanoemnos.com.br 

Sonhos

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Os sonhos são os principais motivadores do nosso caminhar na vida. A realização do sonho se dá  no encontro da competência  com a oportunidade. O sonho que sonhamos, organiza a vontade e  nos impulsiona em direção à aventura de realizá-lo. Não existe sonho impossível, existe sonho que demanda maiores investimentos na competência interna e maior acuidade na percepção da oportunidade externa. Por isso uma das questões mais importantes na realização dos sonhos é a capacidade de sentir: quanto mais acurada a percepção de si e do que está fora de si, maior a probabilidade de ajuste entre encontros e possibilidades. Essa condição implica na consciência das capacidades e limites, e na coragem para  ler os obstáculos como disparadores e incentivos para aquisição de mais recursos na travessia de cada etapa do processo.

O grande inimigo da realização dos sonhos é o habito, a cômoda postura de se repetir e evitar o desconhecido. O sonho inspirado, é aquele que nos pega de surpresa, que abre uma fenda nova na nossa estrutura e que se impõem como aventura a ser explorado. Esse sonho inspirado abre caminhos para uma nova dimensão do eu que está latente, e essa força, uma vez acionada, impulsiona, como uma fonte de vitalidade, o projeto para a realização.

Todo sonhar inspirado acorda o nosso herói interno e nos impulsiona a uma jornada. Nosso sonho nos coloca frente à frente a essa jornada. Os obstáculos e desafios acordam os recursos que vão dar corpo e sentido ao que é sonhado, fortalecendo a experiência de auto-conhecimento Todo sonho que acorda o herói nos conduz à nós mesmos. Saímos fortalecidos. O sonho nos convoca a mais conhecimento, instigando a nossa subjetividade. Matura o conhecimento, que leva a sabedoria que se traduz em atitude. Esse ato transforma a nossa vida.

Gosto daquela história que conta que um homem muito religioso, salvo de um naufrágio em uma ilha deserta, implora a Deus que o salve, justificado pela sua fé. Enquanto rezava, passa por ele uma jangada e oferece ajuda, que ele gentilmente declina dizendo: “Não obrigada, Deus vem me salvar!” Tempos depois passa então um navio maior e oferece uma bóia e novamente, o homem rejeita, com a mesma fala. Terceira tentativa, um helicóptero oferece ajuda, e ele novamente  não aceita. Passada uma semana de fome e de sede, o homem começa a perceber que iria morrer e se revolta com Deus, blasfemando: “Por que eu, que sempre fui tão devoto, obediente a Ti, por que me abandonaste?” Ao que Deus responde: “Mandei a jangada, você não me reconheceu, mandei o navio, e nada. Nem o helicóptero você aceitou, respeitei a tua escolha!”

Duas questões se apresentam nessa alegoria que exemplificam o insucesso de nossos sonhos. Achar que somos especiais, e portanto não precisamos investir nada, nem promover mudanças em nossas vidas e a falta de visão para reconhecer o que chega até nós em formato diferente do que foi imaginado. Realizar o sonho, implica em ter visão e visão é conseqüência da sabedoria. Se saber proporciona a visão das circunstâncias que facilitam a realização do sonho.

A realização do sonho está diretamente relacionado ao alinhamento entre o querer e o sentir, para poder através da sensibilidade dar voz e legitimidade à vontade. Estados depressivos, falta de coerência, ausência de intenção são os estados que não permitem o sonho se realizar. Estar em estado de surpresa, olhar o processo sem perder de vista o objetivo, são condições essenciais para o sucesso.

Muitos dos nossos afazeres são alheios à nossa vontade, assim quando estamos atolados por pressão de sobrevivência não conseguimos sonhar, ou os sonhos viram rotas de fuga da realidade. Quando estamos com as necessidades básicas atendidas, plenos de acolhimento, conforto e atenção chegou o momento de sonhar. A disciplina e a determinação são boas aliados. Marque um encontro com si mesmo, cultive o silêncio para sair da excitação caótica, acesse seu interior abrindo espaço para o sentir, mapeando com sinceridade os sonhos que trazem alegria, liberdade e desprendimento. Descarte os sonhos que aumentam seu apego, que se realizados, o aprisionam para a sustentação do conquistado, ou que exaurem sua alegria.

Nunca transfira a realização do sonho para um outro. O outro ou as circunstâncias são coadjuvantes do nosso projeto. Podemos compartilhar sonhos com o outro que sonha o mesmo sonho, nunca impor o sonho a um outro que não está em sintonia com nossos anseios. Uma parceria boa é aquela que soma intenção e compartilha satisfação.

Como diz o poeta Ferreira Gullar, “que a força do medo não me impeça de ver o que eu anseio”.

 

Lu Teixeira: lucia@ohumanoemnos.com.br

 

 

Uma visão contemporânea dos relacionamentos

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Quem somos nós? Parafraseando o filme que tem atraído a atenção de muitos, penso como seria interessante nos olharmos sob a ótica dessa questão, refletindo sobre quem somos nós, nesse momento de desconstrução e reconstrução de nossas convicções a respeito de nós mesmos. Estamos percebendo que muitas das nossas teorias não encontram ressonância quando as experimentamos em condições mais simples.

Sabemos que devemos ser solidários, amorosos, pacientes e tolerar a diversidade. Mas quando nos relacionamos com outras pessoas, seja no trabalho, com o(a) parceiro(a) amoroso(a) ou com a família, parece que a teoria não acontece na prática e, então, passamos a pensar o que saiu errado. Ou a não pensar, criando uma divisão que nos protege do conflito, da sensação de mal estar, mas que acaba por nos enfraquecer, uma vez que nos separamos de uma parte de nós mesmos deixando que a dicotomia entre o que fazemos e o que acreditamos se estabeleça.

Algo muito importante na nossa história é o substrato que sustenta nossa intenção de sucesso nas nossas relações afetivas. Hoje muitos de nós já se questiona o que mudou, por que o amor romântico não é mais possível, por quê ficar passou a ser uma opção de relacionamento entre jovens e os não tão jovens? Porque assumimos que ninguém tem a posse de ninguém, que o amor é aberto. Mas não conseguimos conter as emoções de raiva, frustração e abandono quando nos apaixonamos e nos assombramos com medo da perda. Achamos que algo está desconectado e não temos mais certezas das teorias que pregamos.

É nesse momento de crise, em que nossa defesa falha, que aparece nossa fragilidade, que muitas vezes adoecemos. São momentos de depressão, insônia, vulnerabilidade a infecções e até crises alérgicas.

Essa história começa lá atrás, quando para sobreviver precisávamos desesperadamente que um outro nos amparasse, nos nutrisse e nos garantisse o aconchego, o carinho e a paciência para que pudéssemos em conforto, nos preparar para a experiência de viver.

Hoje, viver nos parece muito perigoso, ficamos ansiosos com cobranças, não suportamos pressões, temos muito pouca paciência com quem atravanca nosso caminho e tolerância zero com frustrações. Acontece que não sentimos nem mais quem somos nós!

Sentir é a primeira relação que experimentamos com o mundo, experimentamos o mundo em nós. Agradável, desagradável, calor, frio, satisfação e frustração.

A perda de contato com a fonte nutridora e de sustentação nos conta que estamos em risco e que nessa urgência precisamos acionar sistemas de emergência para garantir nossa sobrevivência. Esse alarme em períodos muito iniciais de nosso desenvolvimento provoca uma inundação de emoções e alterações em nosso funcionamento interno que rapidamente mobiliza todos os recursos disponíveis para construir um dique que nos contenha. Habilmente nos encapsulamos para não explodir!

Imaginando essa situação, entendemos que ao lançarmos mão desse recurso tão necessário para a nossa sobrevivência, acabamos caindo numa armadilha, porque começamos a nos distanciar de um recurso fundamental para viver, que é a sensação de ser.

Sem sentir nossa realidade interna, passamos a imaginar quem somos nós, substituindo o sentir pelo fazer e pelo pensar, nos aprisionando nessa desconexão.

Empenhados em nos inventarmos vamos construindo regras que garantem nossa sobrevida, mas não percebemos que deixamos de exercitar e nutrir o que seríamos nós, investindo em modelos que esperam de nós. Complicado não?

Confusos e melancólicos com nossa ausência, sem entender que a perda primordial do núcleo nutridor nos feriu e nos fez carentes, atuamos uma vida de empobrecimento afetivo. As trocas são escassas por isso enrijecemos para não cair, as regras nos amparam e tudo que não é certeza nos ameaça! Vamos buscando fora a confirmação de que existimos e de quanto valemos, quando não vem nos punimos ou punimos o outro. Nosso mundo se aperta, nos pressionamos ou explodimos na busca de confirmação ou negação de quem somos nós.

Se não sei, não existo!

Somos hoje uma população de pensadores, viciados em teorias e informações que possam nos contar sobre nós. Nos viciamos em trabalho, em ginásticas, em drogas, em raivas ruminantes, que excitam nosso corpo.

Como estar com um outro com esse arsenal todo?

Nossos relacionamentos têm nos contado que o encontro com o outro revela nossa ausência e assim desistimos dessa empreitada. Parece que estamos escolhendo trocar a experiência amorosa por excitações fugazes que por um momento nos recorda dessa tão distante sensação de que somos alguém.

Nesse momento de reconstrução de valores, num coletivo em franca transformação, sugiro essa reflexão: Onde estamos nós?