As alegrias das descobertas – um agradecimento

 

“Cruzamentos sugerem que há sempre a possibilidade da surpresa. Peregrinar é caminhar sabendo que para cada passo há uma transversal, uma esquina onde as pessoas, o outro, sempre oferecem a alternativa de um novo destino.” Nilton Bonder

Há alguns anos eu decidi peregrinar pela vida. Não no sentido de sair viajando com uma mochila pelas costas, sem destino, pelo mundo. Mas simbolicamente, a fim de me permitir conhecer novas pessoas, novos horizontes, novos pensamentos, de uma forma aberta para acolher, ser acolhida, (me)inspirar e aprender.

Este fim de semana foi um momento em que eu parei num desses lugares novos e descalcei os meus sapatos para sentir o chão sagrado em que eu estava pisando. Foram 48 horas de convivência com gente que eu nunca havia estado antes, mas que aos poucos foram me mostrando uma nova forma de ver e sentir a vida. Me deixei levar por cada palavra, cada sorriso, cada ideia e sonho de um mundo melhor. Consegui também inspirar e ser inspirada por cada uma dessas mentes brilhantes.

Não consigo descrever em palavras a minha felicidade e o meu amor por tudo o que está acontecendo e aconteceu aqui nesta casa, durante esse tempo. O mundo precisa de um combustível dinâmico como esse, de pessoas que acreditem numa transformação possível e que tenham coragem de colocar as mãos na massa. Não podemos esquecer do grande poder de transformação que temos em nós, em pequena ou grande escala, somos seres influenciadores e podemos mudar o mundo ao nosso redor através da inspiração.

O que nos motiva? O que nos inspira? Aonde queremos chegar? Se a nossa intenção for boa e o nosso coração generoso, chegaremos longe com os nossos sonhos. Como bons peregrinos, não podemos nos esquecer de observar bem o caminho por onde passamos, acolher e aceitar ser acolhido por todos aqueles que cruzam o nosso caminho nessa jornada. Como peregrinos-marujos, sabemos que o mar é perigoso e cheio de desafios, mas ele não termina abruptamente e não existem dragões que vão nos engolir. É preciso coragem e isso temos de sobra.

Gratidão e compaixão, são essas as duas palavras que resumem essas 48 horas de sonho coletivo. Espero que esse encontro não termine aqui e que ele renda frutos em nossos meios e no nosso mundo. Afinal, é sempre bom lembrar que toda árvore cabe dentro de uma semente.

 *Este post é especial. Um agradecimento por esses encontros que a vida nos traz e pelas mudanças que eles nos provocam. Um agradecimento a todos os envolvidos no POA Service Jam 2013. <3

A realização pela humildade e pelo desapego

 

Há alguns anos venho estudando e tentando praticar o desapego. Inicialmente é complicado entender bem o que vem a ser isso, ainda mais quando vivemos numa sociedade onde o acúmulo de bens é a base de todas as crenças de sucesso. Muitos pensam que um ser desapegado é aquele que consegue viver tranquilamente sem muitos bens materiais. Esse conceito não deixa de estar certo, mas o desapego é muito mais, é um estado de vida.

Quando você se aceita como é, livre de julgamentos e expectativas, quando você aceita o outro, aceita a vida e as situações que lhe ocorrem, como conseqüências de escolhas, você está sendo desapegado.

Nós, muitas vezes, nos apegamos a dores, problemas, sonhos, alegrias e esquecemos que a vida segue um fluxo próprio, onde quase nunca temos controle das situações. Apegar-se é desejar ter total controle do que nos ocorre e talvez essa seja a maior causa de todos os sofrimentos. Sofremos porque não temos aquilo que queremos e ao nos prendermos nessa dor, esquecemos de observar todas as outras oportunidades que a vida nos oferece.

Na busca pelo controle e pelo sucesso, esquecemos de escutar aquilo que o nosso coração nos mostra como caminho, deixamos de sentir o que de fato nos importa e vamos em busca de algo que racionalmente acreditamos que seja bom. Estamos sempre atentos ao que os outros pensam de nós, queremos ser perfeitos e bem sucedidos, ganhar muito dinheiro para comprar o que quisermos e, assim, viver para todo o sempre, enquanto a nossa beleza permitir.

Nesse jogo esquecemos que a vida é maior que nós mesmos e é ela quem manda. O ‘acaso’ nos traz situações muitas vezes difíceis de aceitar, porque não queremos enxergar os sinais que nos são dados. Estamos sempre tão ocupados em querer controlar, que sofremos a cada vírgula que sai do lugar. Mas se algo não saiu da forma como gostaríamos, por que não simplesmente dar a volta na situação e exerga-la por um outro ângulo?

Esta reflexão de hoje foi inspirada por um texto do Tao-Te-Ching* que diz assim:

 

“O Ceu é constante, a Terra é constante.

Consequentemente, Céu e Terra podem durar além da eternidade.

Porque eles não geram a si mesmos é que conseguem gerar eternamente.

Portanto, o Sábio coloca-se atrás e mesmo assim é o primeiro;

Coloca-se fora e mesmo assim existe.

Não seria por causa de sua não-individualidade que, estranhamente consegue realizar sua individualidade?”

 

Que 2013 seja o ano do verdadeiro desapego e que possamos ser humildes o suficiente para entendermos os caminhos que a vida nos traz, e aceitá-los com amor, paz e aprendizados. E que esse caminho nos ajude a realizar a nossa verdadeira personalidade, sem medos e sem apegos.

Feliz vida a todos nós!

 

* O Caminho Sábio: Tao-Te-Ching como fonte de inspiração pessoal. Roberto Otsu. Ed. Ágora

O que define um fracassado? – Ensaio sobre o Retorno de Saturno

 

Ontem li algo na internet que me deixou bem intrigada. Na verdade foram dois textos que me fizeram pensar bastante sobre várias coisas que já vêm me ocupando a mente há algum tempo. Um dos textos era uma carta de um jovem de 30 anos, que se dizia um fracassado. Na carta, quase depressiva, ele se dizia assim por ter 30 anos e ainda morar com a mãe, estar desempregado e ter uma namorada de 8 anos que, segundo ele, ainda o ‘aguentava’ por pura pena. O motivo do seu fracasso era não ter uma carreira estabelecida, não possuir um bem material importante e também por ainda não ter conseguido se casar.  O mais assustador de tudo isso não foi nem ler o seu relato, foi ler os comentários das pessoas sobre a sua história. Muitas delas falavam pra ele não se sentir assim, que ainda havia tempo para ele conseguir um bom emprego e construir um patrimônio, e que enquanto isso não acontecia, recomendavam que ele fosse procurar um psiquiatra para que essa dor diminuísse. Ao ler tudo isso eu tive um choque, um choque de realidade. Em que mundo vivemos? Quais são os nossos reais valores?

O tão falado Retorno de Saturno acontece justamente nessa época. É nessa fase dos 28 aos 30 anos, quando começamos a entrar de fato na fase adulta, que Saturno aparece em nossas vidas cobrando a fatura do nosso ‘êxito’: “Por onde você andou? O que construiu? Isso é significativo para o seu futuro?” Não é atoa que esse jovem se sinta um fracassado, afinal, tudo o que ele aprendeu na vida era que deveria, aos 30 anos, ter uma carreira estável que lhe permitisse pagar (com folga) a hipoteca da casa própria, além de uma esposa ou uma bela mulher ao lado. Ao ver, nessa idade, que ele não conseguiu conquistar nada disso, é claro que vem a frustração. “Sou um bosta”, deve pensar o próprio rapaz de si mesmo. Pobre homem. E para piorar a sua situação, vários desconhecidos tentam lhe confortar recomendando a ida a um psiquiatra. Será que é mesmo disso que esse jovem precisa? (Nada contra o trabalho dos psiquiatras, que considero muito importante e útil, mas tenho percebido uma certa banalização dessa profissão ultimamente.) Tornou-se fácil buscar desculpas para nos anestesiarmos. Nossa geração não aprendeu a sentir dor e Gilles Lipovetsky* não me deixa mentir! Buscamos anestésicos a todo momento, sejam eles de tarja preta ou não. Somos a geração do prazer absoluto. A custo de que? O que aprendemos com isso?

Toda a movimentação astrológica desse ano vem ao nosso encontro trazendo esses questionamentos. Nossos valores estão sendo colocados em xeque, a nossa percepção de mundo e relacionamentos também estão mudando a duras penas. O mundo está nos fazendo pensar: Será que o caminho que estou seguindo é mesmo aquele que desejo pra mim, ou apenas é mais um caminho que me mandaram seguir e eu estou seguindo? Viveremos de aparências até quando? E quando é que, enfim, teremos coragem de assumir aquilo que somos de verdade?

Mais do que a ‘fatura do êxito’, o Retorno de Saturno também nos cobra uma coerência entre a nossa essência e aquilo que somos. Acredite, muitas vezes há uma diferença entre essas duas coisas. Você está sendo quem você é de verdade ou está apenas vestindo um personagem?

Em relação ao segundo texto a que me referia no início dessa reflexão, é esse aqui, um complemento para tudo isso.

E então, onde vive o seu fracasso?

 

* A Felicidade Paradoxal – Gilles Lipovetsky

Urano, novembro e os questionamentos necessários

 

Urano é o planeta da inovação, das mudanças e não é atoa que muitos de nós estamos passando por grandes processos de mudanças nos últimos tempos, afinal, Urano está agindo fortemente no mundo e em nossas vidas por estar em um aspecto tenso com Plutão (o planeta da morte e das transformações) e no signo de Áries, que lhe traz mais agilidade e impulsividade.

Onde quer que Urano esteja transitado em nosso mapa astral, sentimos a necessidade de romper ou remendar a área de vida afetada e seremos tentados por qualquer coisa que apareça prometendo algo melhor do que já temos. Surge aquele momento de descontentamento e inquietação com tais assuntos relacionados com a casa ou esfera da vida afetadas por Urano, que em nome do progresso, procura derrubar e abrir espaço para algo novo. Ou seja, é tempo de mudar! Tanto porque Urano age independente da nossa vontade, e querendo ou não, seremos obrigados a mudar de alguma forma, seja por escolha ou coerção, ainda mais nessa quadratura com Plutão, onde esse poder aumenta.

O mês de novembro foi um mês um pouco pesado para muitos de nós. Tivemos Mercúrio retrogrado, pedindo um momento de reflexão, 2 eclipses no signo de Escorpião, pedindo transformação,  e uma conjunção de Marte com Plutão, um efeito panela de pressão que dá coragem para que essas transformações aconteçam. Foi um mês de muitos acontecimentos, muitos questionamentos, tudo isso marcando a proximidade do “fim do mundo”. Realmente, para muitos de nós parece que o mundo está realmente chegando ao fim. Mas esse mundo que me refiro é um mundo simbólico, o mundo que criamos em nossas cabeças e que temos como verdade. Será que somos mesmo isso que acreditamos ser? Será que os caminhos que estamos seguindo são, de fato, aqueles que estão de acordo com a nossa verdadeira essência? A sensação é de que estamos sendo cobrados para um despertar verdadeiro. As (nossas) máscaras estão caindo, um compromisso sério com a (nossa) realidade está sendo cobrado.

A energia de Marte/Plutão nos chama para a realização. Talvez seja esse o momento ideal para dar aquele basta e enfrentar o que quer que seja que tenhamos que enfrentar.

Não fuja dos seus questionamentos. Eles são valiosos e marcam um novo caminho. Tenha coragem, a hora é agora!

Transformando flechas em flores – O desafio Plutoniano

 

foto: Juliana França

foto: Juliana França

Tenho pensado muito sobre a não agressão e a cultura de paz. Como sermos pacíficos, generosos e cheios de compaixão numa cultura e numa sociedade que nos incita simplesmente o contrário disso tudo?

Recentemente passei por algumas situações que me geraram muita raiva. Todos nós passamos por situações assim, esse não é um privilégio meu. E geralmente, nesses momentos, acumulamos aquela raiva por determinada pessoa ou situação e nos deliciamos ao alimentar cada pensamento negativo, ao soltar cada palavra recheada de mágoa, como se ao falar e contar para outras pessoas esse sentimento fosse desaparecer ou ao menos melhorar, mas mal nos damos conta de que ao fazer isso, em cada gesto, cada olhar, cada pensamento e cada palavra, estamos alimentando mais ainda esse sentimento ruim, que vai aumentando até virar um monstro.

Há uma história de que na noite em que Buda atingira a sua iluminação, ele se sentou sob uma árvore. Enquanto ele estava ali, foi atingido por uma tropa que lançou várias flechas contra ele, mas antes de atingi-lo essas flechas viraram flores. E como isso é possível?

Após ler essa história, fiquei dias refletindo sobre isso. Em como muitas vezes transformamos simples flechas numa tremenda batalha. Às vezes nem percebemos o que está sendo lançado contra nós, apenas vemos uma certa movimentação e já nos levantamos com as nossas armaduras, prontos para a revanche. Nesse movimento nos deixamos contaminar por nossos pensamentos e suposições, já armamos o campo de batalha, damos nomes aos inimigos e imediatamente começamos a chamar gente para a guerra, afinal, temos que ter o maior numero de pessoas ao nosso redor. E assim, quando menos percebemos, a batalha está formada. Passamos grande parte do nosso tempo arquitetando as estratégias para destruir o inimigo e sair ileso da briga. E, de repente, as simples flechas se transformaram (em nossa cabeça) num arsenal de armas perigosas. E tudo isso pra quê?

Fazendo um paralelo com a força Plutoniana*, percebemos que sentimos isso quando algo ameaça a nossa felicidade. Quando percebemos que algo ou alguém surge para tirar aquilo que nos gera prazer, imediatamente somos tomados por uma raiva imensa, uma vontade destrutiva sem igual.

Plutão traz transformação, morte, poder. É uma força externa que age em nossas vidas causando um grande abalo, e, muitas vezes, gerando muita raiva. Eu costumo dizer que existem três fases de lida com a força plutoniana: a fase cobra, águia e fênix. A fase cobra é quando só alimentamos o veneno da raiva e tudo o que mais desejamos é destruir a pessoa/causa que nos gerou tamanha dor. Rastejamos e temos o olhar fixo em um único plano: o da destruição. A fase águia é quando conseguimos sair da situação (e da raiva) e observar por outro ângulo. É quando começamos a ter uma nova percepção sobre os fatos e aceitar o acontecido. Já a fase fênix é quando após ter essa nova visão, transcendemos e transformamos a nossa dor em aprendizado. Não é fácil passar por essas três fases ao lidar com certas dores, mas um olhar pacífico, um sentir não violento, sempre é mais acolhedor que o acúmulo de raiva e rancor. Afinal, ao acumular esses sentimentos negativos, só fazemos mal a nós mesmos.

Ao lidar com os pedidos de transformações que a vida nos traz, precisamos tentar ver flores ao invés de flechas. Plutão mata (física e simbolicamente), mas também transforma e traz poder. Faz parte da dualidade da vida. Como vamos lidar com determinada situação, só depende de nós e da forma como enxergamos os fatos.

Ao sermos atingidos pela raiva por outra pessoa, podíamos fazer um exercício de tentar usar a serenidade e a compaixão para também ver o sofrimento do outro, entender por que ele age assim e como também sofre. Não somos seres isentos de sentimentos. No fundo, o que todos nós buscamos é a nossa felicidade. E entender e aceitar isso nos ajuda a ver flores no lugar de flechas. Não estou dizendo que isso nos isenta da responsabilidade de determinadas atitudes, mas essa visão nos ajuda a ter um olhar mais generoso em relação aos acontecimentos. Só somos capazes de perdoar o outro, se formos capazes de perdoar a nós mesmos. Por isso, experimente abaixar as armas de vez em quando. Talvez a outra pessoa precise apenas de um pouco de compreensão e amor, assim como você e todos nós.

 

*Para entender mais sobre Plutão, leia:  

– Sobre dúvidas astrológicas: mini-guia para principiantes

– Quando tudo se desfaz – Plutão em Capricórnio

 

*Livros indicados para momentos turbulentos:

– Quando tudo se desfaz – Pema Chödrön, Ed. Gryphus

– Iluminação Cotidiana – Yeshe Chödron, Ed. Gaia

– O Livro das Emoções – Bel César, Ed. Gaia

– O Caminho Sábio – Roberto Otsu, Ed. Agora