por Juliana França | nov 16, 2017 | Auto-conhecimento
Foto por: Juliana França
Todos os dias eu acordo com medo. Basta abrir os olhos e já sinto o coração dar uma leve disparada. Onde estou? O que estou fazendo da minha vida? Como será o meu futuro? E percebo que sempre que penso no futuro o coração dispara. Sinto uma certa angústia. O tal medo que vem em forma de névoa. Aos poucos vou me repetindo que está tudo bem e não preciso me preocupar. O futuro é feito do presente, então vou tentando me concentrar no agora para dissipar a ansiedade. Respiro fundo, sinto o ar entrando e tomando conta do meu corpo. Sinto meus pés, pernas, braços, mãos. Penso em tudo o que posso realizar, tomo consciência do meu potencial. Agradeço. Me levanto.
De uns anos pra cá essa tem sido a minha rotina diária. O medo em quem escolhe um caminho não convencional também existe, afinal, o mundo nos coloca muitas obrigações e nos vende que precisamos ter seguranças no futuro. Quando você percebe, está vivendo em função do futuro e não do presente. Esquece de saborear a comida, de se abrir para os encontros que o acaso traz, de aceitar o novo, de se jogar no inesperado.
O medo vem e de nada adianta lutar contra ele. Todos os dias ele me acorda, mas eu aprendi a encará-lo de frente. A olhar bem fundo em seus olhos e me acolher. A medida em que eu fui entendo a sua existência e o aceitando em minha vida, eu percebi que ele foi ficando mais fraco. Não que ele tenha perdido força, mas o acolhimento que resolvi dar a ele fez com que nos tornássemos mais íntimos, pois eu passei a entendê-lo melhor. E por entendê-lo melhor, eu passei a me assustar menos.
Como lutar contra algo que é seu? A questão está em não lutar, mas acolher. Porque quando você acolhe, você abre espaço para entender e, então, mudar. Foi acolhendo o meu medo que eu descobri a coragem que tenho. O medo se transformou em força. A coragem de percorrer os caminhos desconhecidos, de aceitar o novo e celebrar a vida.
O meu medo não é maior do que a minha coragem, pois eles são a mesma energia. Então, agora, sempre que me desperto pela manhã e sinto medo, agradeço por ele estar ali. Pois ele me mostra o quão forte eu sou.
Juliana França trabalha com astrologia terapêutica, sob a visão humanista. Também tem estudos em psicanálise, psicologia junguiana e antroposofia.
por Juliana França | nov 8, 2017 | Infância
Foto por: Juliana França
Se eu fosse escolher um planeta para definir a infância, ele seria Júpiter. O grande expansor, que abre portas e caminhos, e que tem um quê de sabedoria também. A infância, ao meu ver, é um momento de completa expansão. A criança é como uma semente, sedenta por uma boa terra fértil para ser plantada e condições favoráveis para se desenvolver. E nós, adultos, somos responsáveis por isso, por prover a boa terra, adubo e regar no tempo certo. A questão é que nem sempre nos damos conta disso.
Após um ano intenso imersa no mundo infantil – sob a ótica da antroposofia -, entre crianças, pais e professores, o que percebi é que ser criança não é nada fácil e óbvio. A sensação que me vem é que a primeira coisa que tentamos fazer é limitar as nossas crianças, até porque um dia também fomos limitados. Queremos transformar a energia de Júpiter em Saturno e transformar a expansão e descoberta em controle, afinal, vivemos num mundo cheio de obrigações e compromissos, onde somos obrigados a dar frutos em terreno arenoso. Queremos fazer o espaço caber em caixinhas, transferimos as nossas angústias aos nossos pequenos, na ânsia de fazê-los “melhores”. Melhores pra quê? Pra quem?
Sabe, num momento de tristeza, quem chora é a sua criança. Num momento de dor, quem sofre é a sua criança. Todos nós temos uma criança interior que sente os traumas e as feridas do passado, da tentativa de um ajuste a um terreno não propício para si. As crianças, assim como nós, carregam em si uma vontade imensa de fazer, de descobrir, de amar. Você já reparou que quanto menor a criança, menos medo ela tem? Elas aprendem a andar caindo. Aprendem a falar errando. Aprendem a comer experimentando. Elas não buscam a perfeição (característica tão saturnina), elas buscam a experiência. Elas querem provar, desvendar, descobrir. Aprender. E nós ainda temos isso dentro de nós, na nossa criança interior.
Por isso, sempre digo que para entender de fato uma criança, precisamos entender e atender a nossa criança interior. Sem essa conexão o diálogo não se faz completo, não somos capazes de compreender plenamente as necessidades daquele serzinho que só quer afeto e proteção, assim como nós. Porque no fim das contas, para expandir e crescer, só precisamos de uma única coisa: amor. Então, para ajudar a criança externa, comece por dentro, doando-se auto-amor. Pois o amor é o melhor adubo, para toda e qualquer circunstância ou fase de vida.