Endometriose e a liberdade perdida

Foto do projeto: Mulheres, arte e Endometriose por @sitah_photoart

Foto do projeto: Somos uma por @sitah_photoart

Tenho 31 anos e recentemente fui diagnosticada com endometriose profunda, ou grave ou sei lá o que. Resumindo, a minha probabilidade de ter filhos é praticamente nula ou perto dos -10%.

Acho que escutar isso foi uma das coisas mais difíceis pelas quais já passei na vida, mesmo eu, que nunca fiz grandes planos em relação à maternidade. É como enterrar uma pessoa que sequer chegou a existir. “Mas Juliana, você é uma mulher livre! Gosta de viajar, seguir seu coração. Você não nasceu pra ser mãe!” “Ah, mas a medicina hoje tá avançada. A Mariazinha da esquina tem endometriose e teve 2 filhos!” “Não fica triste não, você pode adotar!” Essas foram algumas das coisas que escutei. E cada vez que escutava alguém me dando um desses conselhos, me sentia ainda mais devastada.

Sim, eu sou uma mulher livre. Gosto de ir e vir, experimentar, provar o novo. E, justamente por ser livre, gostaria de ter a opção de decisão em relação ao meu útero. Uma coisa é decidir por não ter filhos. Outra coisa é ser sentenciada a não tê-los. E nada nunca tolheu tanto a minha liberdade quanto essa sentença, quanto a não compreensão das dores femininas, iniciando pelas cólicas profundas que eu sentia e negligenciava, por achar que era normal sofrer 4 dias por mês, todo mês.

A endometriose é uma doença séria e que vem afetando milhares de mulheres ano após ano ao redor de todo o mundo. É uma doença silenciosa, em que geralmente as mulheres descobrem quando já é tarde demais. A gente se nega atrás dos remédios para dores, das reuniões que não podemos perder, dos afazeres do dia que não podem ser adiados. Afinal, é normal sentir dor, é normal sofrer, é normal escutar das pessoas o que temos/podemos fazer da vida.

Minha querida amiga, a Mariazinha da esquina não tem um corpo como o meu. Eu sei que você não disse isso por mal, mas cada caso é um caso e a gente precisa entender isso para a endometriose sair dessa zona comum da ignorância.

Meu querido amigo, eu sei que posso adotar. Acho lindo, inclusive. E na ânsia de viver o meu feminino na sua maior potencialidade, adotei 6 crianças atualmente, as quais devoto todo o amor que eu nem imaginava que existia aqui dentro. Adoção, pra mim, é doação. E eu estou me doando por completo nessa minha fase de vida na qual busco pela minha cura. Mas amigo, não minimize a dor de saber que bem provavelmente eu não tenha a capacidade de gerar vida. Dói muito e talvez você nunca entenda.

Meninas, mulheres, amigas, primas, irmãs: não minimizem as suas dores. Jamais. Nenhuma delas. Chore, grite, sofra. Diga ao/a seu/sua chefe, ao/a seu/sua médico(a) que dói. Que você quer investigar melhor. Não se contente com um simples analgésico.

Pra mim, tudo isso só representa uma grande verdade que estamos vivendo nessa sociedade: somos viciados em analgésicos. Em soluções que tiram a dor, mas que não curam o problema. E o problema, amigos, está sempre dentro de nós. Escondido, mas pulsante, aumentando a cada dia. Por isso, escute-se. Investigue-se. Só você pode se salvar.

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