De repente a vida me jogou de um penhasco e eu, que pensei que fosse cair num abismo, descobri que sei voar. É bem essa a sensação que Plutão provoca em nossas vidas quando resolve agir. Ele é conhecido como o planeta da morte, atua externamente destruindo tudo, num chamado profundo de transformação, renascimento. Depois de Plutão, nada será o mesmo, você não será o mesmo.
O penhasco é imenso, o abismo é profundo e ao cair, tomado por todo o desespero, a única coisa que você precisa buscar é a sua força para voar. São nesses momentos, onde tudo se desfaz, momentos de dores profundas e total escuridão, que precisamos encontrar a luz que nos faz enxergar no fim do túnel.
Recentemente passei por várias situações tipicamente plutonianas. Vi o sonho de uma união morrer, o conforto do lar se desfazer e fui obrigada a aceitar o desapego como lei de vida. Plutão chegou sem pedir licença, pronto pra fazer uma super limpeza, destruindo todas as bases que eu pensava ser sólidas e todos os sonhos que eu acreditava que eram reais. Essa, em especial, é uma característica desse trânsito atual, Plutão, o deus da morte e da destruição, em Capricórnio, signo da ordem e das bases sólidas.
Plutão machuca sem dó, faz sofrer, perder o rumo, gritar de desespero, e desce rasgando, te obrigando a mudar (ou se entregar a essa dor e sofrimento).
Onde temos Plutão no nosso mapa natal, geralmente somos obrigados a passar por grandes transformações. É a área da vida afetada por situações que nos obrigam a aceitar a lei da impermanência, pois grandes dificuldades e desafios surgem buscando uma evolução. Plutão também está relacionado ao poder, e se bem trabalhado, podemos usar a sua força para nos dar mais força ainda nessas áreas específicas.
Na mitologia, podemos associar este planeta com a Fênix, pois se você conseguir extrair o melhor de Plutão, após um período de recolhimento e reflexão, uma nova perspectiva surgirá e provavelmente você será uma nova pessoa.
Ela não sabia muito bem pra onde ir. Não sabia muito bem o que fazer. Faltava ar, era uma dor no peito que vez ou outra sentia, mas nunca tinha dado tanta importância. Agora gritava alto, parecia não ter fim. Pela estrada, uma bifurcação. Estava parada, olhava adiante e não conseguia escolher o caminho. Seus pensamentos não paravam, era como se uma avalanche de lembranças, medos e dores viessem ao seu encontro. Como saber? Como sentir? Como entender?
No fundo ela sabia todas as respostas, só não sabia decodifica-las. Não queria aceita-las, parecia pesado demais. A dor de abandonar uma vida, começar um caminho novo, deixar tudo para trás. Mas não havia outra escolha. Ela precisava decidir e seja qual fosse o caminho a ser escolhido, tudo seria novo, nada seria simples. As dúvidas martelavam em sua cabeça. “E se não for pra esse lado?” “E se eu errar?” Não, em nenhuma das opções ela poderia voltar atrás, afinal, a vida segue e ela sabia disso.
A dúvida apertava, a cabeça gritava, o coração batia. Tic tac, tic tac, o tempo não parava. Precisava seguir adiante, já não podia mais esperar. Respira fundo, senta, chora, reza. Pede calma. Pede benção. Pede paz. E paz existe? Existe o amor? E ela se lembrou de uma frase que havia escutado há tempos: “Quando não há nada a fazer, o melhor é descansar.” E assim o fez. Aceitou a dor, aceitou a dúvida, aceitou o não saber. Ela sabia que a decisão era simples e a resposta estava mais próxima do que imaginava. Precisava apenas silenciar a mente para poder escutar o coração.
Foram horas de silêncio. Os pensamentos vinham e ela gentilmente os deixava passar. E lentamente ela se levantou, pegou as suas malas e foi em direção ao caminho mais escuro. Houve quem lhe perguntasse o porquê dessa escolha. Sua resposta soava simples: “É que a luz sempre brilha mais forte depois da escuridão.”
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Assim aparece Netuno em nossas vidas neste trânsito atual, quando suavemente, em seu movimento lento, entra no signo de Peixes. Somos convidados a buscar um caminho que parece se dissolver. Somos intimados a dar um novo passo, a buscar as respostas num lugar muito óbvio, mas pouco acessado: o nosso coração.
No princípio parece tudo muito sombrio, as emoções afloram, os medos imperam, é o receio do desconhecido. Mas ao aceitar essa força, esse pedido de fé em si e na vida, Netuno recupera a sua força em seu domicílio: ele pede sensibilidade, atenção a si e ao outro, esperança em tempos melhores e fé.
Ao aceitar este chamado de Netuno, seremos obrigados a quebrar velhos padrões, velhos caminhos e apostar no novo, recheado de sensibilidade. Aprenderemos, aos poucos, que o caminho do coração, apesar de parecer mais sombrio no princípio, é aquele que, ao final, traz a luz capaz de nos fazer enxergar as silhuetas da vida e das emoções.