A natureza usa o inverno como um momento de recolhimento. Recolhem-se as pessoas, as árvores, os animais. Tudo fica mais lento, mais monocromático, mais cinza. Muitos reclamam do inverno, afinal, não é fácil viver sob baixas temperaturas e aguentar um pedido de calma numa rotina que nos ejeta para o fazer constante. É necessário aprender a parar. Esperar. Descansar.

Por mais que não vivamos em zonas com as estações do ano bem marcadas, todos nós temos os nossos invernos próprios. São essas chamadas fases de transição, quando precisamos nos recolher para acumular energia para dar um passo adiante. Tem aqueles dias em que parecemos estar operando com o nível mais limítrofe de bateria, em que desejamos que desliguem logo as luzes e anoiteça por 12 horas, para que possamos desaparecer de tudo e de todos. Nesses momentos, não adianta tentar ascender lanternas e luzes de LED, o nosso corpo precisa descansar. Precisa se dar o tempo de se recarregar, de organizar os pedaços internos, se refazer.

Na natureza é justamente no inverno que as sementes estão na sua maior atividade. Achamos que elas estão ali semi-mortas, mas é nesse recolhimento que internamente elas se preparam para a fase seguinte, a primavera, assim como em nossas vidas.

Viver um inverno interior não é fácil. Como no frio intenso, dói fundo, às vezes até dando a sensação de que os nossos ossos vão se quebrar por completo. A vontade de recolhimento impera, muitas vezes acompanhado por uma grande tristeza. Mas são justamente esses os momentos que nos trazem o maior potencial de amadurecer as nossas sementes mais profundas.

Se olharmos a fundo para os nossos invernos, se aceitarmos com generosidade esses momentos de recolhimento, se nos respeitarmos nos limites de bateria, estaremos nos preparando para uma linda primavera. Pois, exatamente como na natureza, por mais longo e duro que possa ser um inverno, ele acaba. E sempre será precedido pela estação das flores, frutos e temperaturas amenas. Afinal, nenhum inverno dura para sempre, nem mesmo os internos.